A Freguesia da Venteira constituiu-se em Outubro de 2013, como uma de seis freguesias do Concelho da Amadora, resultante da junção da anterior Freguesia da Venteira e de parte da Freguesia da Reboleira (nascidas em 1980, no âmbito da criação do Concelho da Amadora) e integrando como principais lugares históricos, a Amadora, o Bairro de Janeiro, O Borel, o Casal dos Adões/Casas do Lago, a Reboleira, a Venteira, bem como um conjunto de outros mais pequenos.
Durante milénios, o território actual da Venteira (bem como o de toda a Amadora) assistiu a um vai-e-vem continuo de pequenos grupos populacionais do paleolítico, que demandavam a região devido às suas boas condições naturais. Assentes em culturas nómadas, estes grupos dedicavam-se a actividades recolectoras, por cá deixando instrumentos, como memórias do si e do seu tempo.
Com o advento da agricultura a região assume-se como zona agrícola, beneficiando de um curso de água permanente e, com certeza, vários outros temporários. As suas condições levaram a que rapidamente de deva ter tornado uma excelente produtora de cereais (desenvolvendo-se, mais tarde, uma florescente indústria de panificação). O longo período entre o neolítico, o calcolítico, o Bronze e a Idade do ferro, passou-o a Venteira, entre povoados, quase todos no alto de montes. Não há notícia destes povoados no território venteirense, mas haverá a hipótese de aqui ter havido algum (no alto da Venteira ou na Serra de Carnaxide, por exemplo).
Com Roma, a região da actual Amadora passará a viver, com toda a certeza, virada para a grande urbe do estuário, chame-se ela a Olisipo romana, a Olisepona (ou Olisipona) sueva ou visigótica, a Alusbona muçulmana ou a Lisboa cristã. Toda esta região será agora alfoz da cidade, organizando-se a população em Casais, unidades familiares de produção, podendo estes Casais estar dispersos ou aglomerados em pequenas aldeias. Administrativamente, a partir da Lisboa Cristã, a região estaria inserida na Freguesia de Benfica, Paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Com a criação do Concelho de Oeiras, em 1759, a zona transita para a Freguesia de Carnaxide, daquele Concelho, aí se mantendo até 1916, quando a Amadora se torna, ela própria, Freguesia do concelho de Oeiras. No meio deste percurso, um pequeno interregno, entre 1852 e 1885, tanto tempo, quanto o que durou o Concelho de Belém, a que a Freguesia de Carnaxide pertenceu.
A primeira notícia sobre a Venteira, surge num documento de 1497 que refere um casal, “(…) que he onde chamom Aventeyra freeguesia de Bemfica (…)” comprado por D. Isabel de Sousa, camareira mor da Infanta D. Maria, a Abraão Palaçano e sua mulher Cinfaã, casal esse que estava (e continuou) aforado a Alvaro Diaz, morador e proprietário no local. Para além desta notícia, começa a ser comum no século XVIII a menção à Venteira e a outros lugares da zona (caso de Sorãns, que já desapareceu, Amadora e Maduro), sobretudo em assentos de baptismos. Um exemplo desta situação – Margot Francisca e António Francisco, moradores na Amadora, foram padrinhos de Manoel que nasceu em 1729 em Carenque e foi baptizado em Belas, assim reza um livro de assentos daquela Paróquia.
Entretanto no século XIX a Venteira faz parte do lugar da Porcalhota, juntamente com a Falagueira, o Alto do Maduro e o pequeno sítio da Amadora, entre outros. Aqui passava a Estrada Real de Sintra e seria no Alto do Maduro, precisamente, que se daria a bifurcação da Estrada de Sintra com a estrada de Mafra. Em 1887, um acontecimento revelou-se marcante para toda a história recente da região – inaugurou-se a linha de Caminho de Ferro de Sintra, com um apeadeiro que recebe, nessa altura, o nome da povoação mais populosa – a Porcalhota. Em 1895, instala-se na vizinhança da estação, entre a Amadora e o Alto do Maduro, uma fábrica de Espartilhos a Vapor, fundada por um comerciante lisboeta, que, entretanto vem viver para cá – José dos Santos Matos. Era o início de uma relação privilegiada, entre a mão-de-obra da região e a facilidade de transporte através do caminho-de-ferro, de matérias-primas e produtos transformados.
O comboio, juntamente com as boas condições sanitárias da Amadora, a mão-de-obra e o empreendorismo de várias personagens, muitas delas republicanas, vão permitir o desenvolvimento da região que passa, simbolicamente, pela mudança do nome com que a zona era mais conhecida – de Porcalhota para Amadora, através de uma petição ao Rei D. Carlos, em 1907.
A Venteira irá assumir uma posição central num processo de urbanização, processo esse que teve uma fase fundamental durante a Primeira República, entre 1911 e 1916 (ano em que a Amadora se torna freguesia). Nesta fase o centro da Amadora era todo ele localizado na Venteira, com dois eixos – a Rua 5 de Outubro e a Avenida Amaral (actual santos Mattos) que comunicava com a estação dos Caminhos-de-Ferro. Esta posição central mantém-se ao longo da História recente da Amadora, agora dividindo este papel com a Mina de Água.
Mas se a Venteira é um lugar que no século XIX rivalizava já com outros núcleos da região, como a Falagueira, a Amadora ou a Porcalhota, a Reboleira só muito tarde se assume como aglomerado populacional. Sabemos que numa carta oitocentista da região, duas zonas aparecem marcadas como Casal da Reboleira. Na realidade, este Casal devia ser perto da Estrada de Sintra e da Porcalhota, onde hoje ainda existe a Travessa da Reboleira, na freguesia da Falagueira-Venda Nova. Os dois topónimos iguais, ou são engano ou o que está na actual Freguesia da Venteira servia apenas para referenciar terras de cultivo. Para todos os efeitos, nos anos 60 do século XX o topónimo é utilizado para dar o nome a uma urbanização que aqui se começa a construir. Será João Pimenta, o famoso J. Pimenta, que aqui inicia um empreendimento designado como uma cidade-jardim, que se vai tornar conhecida como uma das primeiras, senão a primeira vez que se constrói nos subúrbios para venda em propriedade horizontal, a preços relativamente baixos. O seu anúncio, no programa da Rádio dos Parodiantes de Lisboa, também se tornou célebre. “Aaatchim! Santinho! Santinho Não Pimenta! Pois, pois, Jota Pimenta!”.
Na actualidade, a Venteira, uma das seis actuais freguesias do Concelho da Amadora, criado em 1979, concentra uma boa parte dos equipamentos sociais, económicos, desportivos e culturais do município, para além de uma quantidade significativa do património urbano da autarquia.
Cruzando o seu passado com a História da Amadora, a Venteira integra hoje, por direito próprio, o futuro da nossa Cidade!
João Castela Cravo
Este texto foi escrito nos termos do anterior acordo ortográfico